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23 de fevereiro de 2009

Já não se fazem mais homens como...


Leotexto: Soraya Magalhães
Rio de Janeiro - Brasil


Foi lá nos primórdios dos anos 80 - aquela década meio imperdoável, onde só os melhores e sem ombreiras sobreviveram - que conheci a Cássia Eller.
Como eu era adolescente (= sem grana), via os shows dela através do toldo que cercava o restaurante natureba que ela cantava. Me deliciava ali mais que com qualquer berinjela ou abobrinha do cardápio que me eram proibidos.
Ela cantava com aquela voz rascante e rasgada e eu ía derretendo ali do lado de fora, ali contraventora e barrada. Mas ninguém segurava aquela voz. Nenhuma parede era capaz de reter o que ela soltava quando abria a boca. Como era possível alguém berrar com tanta melodia tudo aquilo que eu queria dizer?
Mudei de Brasília pro Rio e já tava aqui capengando de saudade quando finalmente ela fez sucesso. Fiquei tão feliz, mas tão feliz, mas ao mesmo tempo tão enciumada, pois aquela sensação que eu tinha não seria mais só minha.
Não que eu quisesse aquela voz só prá mim. Não era isso. Mas eu tinha um medo de vulgarizar e as pessoas não alcançarem a extensão de tudo aquilo, de toda aquela voracidade. Tudo pulsante, tudo muito forte, que saía da garganta da diva viva e ganhava o mundo sem portões ou paredes ou toldos.
Foi tudo tão rápido e intenso que até hoje brinco com os amigos dizendo que devo minha heterossexualidade à Ela, que nunca me deu bola.
E num suspiro desolado e desiludido fico aqui pensando e exclamando em alto e bom som com uma certa nostalgia:
_"Já não se fazem mais homens como a Cássia Eller!"



http://pravariar2.blogspot.com/


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16 comentários/comente ...:

Anônimo disse...

Nessa frase: "Já não se fazem mais homens como a Cássia Eller!"
". Em que contexto vc. coloca a palavra "homens" - tanto no aspecto fisiológico como psicológico - e o quê a Cassia Eller tem de "homens" para servir de referência, acho que há uma colocação pessoal sua que precisa ficar clara para os leitores do Blog.
Ps.Sò para constar deixo claro quê vivo, convivo e sei viver com os diferentes.
William Silva.

soraya.magalhaes@gmail.com disse...

Olá william,
vou me explicar prá evitar qualquer mal entendido.
A Cássia Eller, prá mim, consegue expressar uma virilidade tamanha, e ainda assim ser dócil. Acho que hoje, a imagem masculina está meio em crise, pois me deparo com homens ou 'sensíveis demais', ou seja, sem pulso, ou broncos, troglos, que teimam em bater em qualquer coisa que se mova prá provar alguma coisa prá alguém que não sei exatamente o que é.
Claro que nem todos os homens estão assim, mas que a imagem está em crise, ah, isso está.
Disse que não se fazem homens como a Cássia Eller numa brincadeira. Eu poderia dizer Denzel Washington também, mas acho que ele não canta, e isso é um blog de música.
quanto ao meu texto ser a minha opinião, isso é óbvio. eu expresso a minha, vc expressou a sua... a gente sempre põe a nossa opinião no que escreve com vontade. E como o compromisso desse blog é só falar do gosto das pessoas, não vejo mal nenhum nisso.
É isso a aceitação da diferença.
Aceitar uma opinião que pode nem bater com a nossa, mas é um direito de cada um pensar. se não for imposta - como em ditadura ou estupro - não vejo porque não existir. seria eliminar a diferença querer que fôssemos do mesmo time, sempre. E esse não é de longe o meu lema. Aliás, eu mesma tenho vários lemas, como poderia exigir uma unidade dos outros se nem ao menos eu sou una?
Viva a multiplicidade! Viva eu poder dizer que devo a minha heterossexualidade à cássia eller pois essa era a única mulher que me interessou - além do tom jocoso que usei. como devo o gostar de jiló à minha cunhada que comeu aquilo na minha frente coma boca tão boa que me fez querer experimentar. Como devo a um ex namorado ter me mostrado o que era jazz. enfim, ainda bem que a diferença existe, assim a gente pode ousar e experimentar tudo. e pode até brincar e declarar o amor a uma cantora sem necessariamente casar com ela.
abraço, Willian,
e que bom que vc participou e me deu até a chance de esclarecer qualquer confusão.

Anônimo disse...

Particularmente acho estranho quê esse tipo de virilidade e masculinidade que vc. buscou e encontrou na Cassia Eller (??) tenha despertado a sua "Heterossexualidade". Eu, particularmente sou "feminista" assumido e não admito qualquer tipo de desrespeito ou algo parecido com o sexo oposto com isso deixo claro meu carinho e afeto por todas mulheres pois, as adoro assim como Tom Jobim e Vinicus as cantaram em verso e prosa ou seja não tenho a síndrome do super-macho.
Bem onde quero chegar com isso: porquê abominar e excluir/apagar o sexo masculino abandonando a paixão e a natureza falocêntrica (= Pierre Weill - Mística do Sexo ), procurarando na imagem feminina uma virilidade e masculinidade que não existe e, se existe me mostre pois eu quero ver. Em seu texto vc. não expressou a sua preferência sexual/amorosa/ etc.. quando vc. escreveu o texto sobre "já não se fazem mais homens como...." e como leitor deste Blog pergunto de novo ""Em que contexto vc. coloca a palavra "homens" - tanto no aspecto fisiológico como psicológico - e o quê a Cassia Eller tem de "homens" para servir de referência"". Estou contestando vc. para provocar mesmo,para saber aonde estão os fantasmas que a sociedade (= com certa razão) ainda teima em olhar como doença, onde os pais e mães se perguntam onde errei e etc. No final do texto vc. colocou um link para o seu blog mais esse texto não está lá porquê ??, alias não vi nada relacionado a esse tipo de assunto em seu blog.
Dê certa forma fiquei incomodado com o texto, pois como disse acima adoro "mulher" e as respeito, gostaria que lesse o poema abaixo e refletisse.:
"Eu queria que os outros dissessem de mim: Olha um homem! Como se diz: Olha um cão! quando passa um cão; como se diz: Olha uma árvore! quando há uma árvore. Assim, inteiro, sem adjectivos, só de uma peça: Um homem!" Almada Negreiros.
Att.
William Silva.

soraya.magalhaes@gmail.com disse...

pôxa William,
vc gosta de provocar mas implicou com minha provocação.
por que?
vc me manda um poema lindo e uma indicação de autor falando sobre o tema. mas eu mesma afirmo que a identidade masculina anda abalada. pergunte ao seu avôzinho se na época dele essa identidade era dada, pré-fabricada. Hoje todo mundo pode tentar outras coisas.
eu falei sim das minhas preferências. numa brincadeira, mas falei. Eu gosto de homem como vc gosta de mulher. mas olha a gente aqui brigando. por que?
um encaixe bom dessese e vc aí querendo explicações, querendo discutir relação. prá que isso?
tem tanta gente que leu e entendeu minha brincadeira. vc não?
Bjos prá vc.
e venho em missão de paz, estranho.

Rodrigo de Jesus disse...

Justamente mestra,a virilidade não é uma qualidade estritamente masculina, óbvio, e achei legal vc pegar como exemplo a Cássia. E qto ao título , observei sua coerencia nesse carnaval com o fenômeno um tanto estranho da homofobia, já que moro perto de uma das maiores concentrações GLS do RJ, com tantas gatas espetaculares nas ruas e blocos, porque se preocupar com a direção sexual dos outros. Minha gente a ordem é BEIJAR NA BOCA.rsrsrs

Ronaldo de Jesus, bassman

Anônimo disse...

Soraya Magalhães,
Apesar do meu " eu" te provocar vc. me dá flores e me cativa, apesar de sermos opostos e justapostos a tua leveza e sutileza me mostrou algo que não tem tamanho....
Se permitir vou estar visitando teu blog para aprender mais ok..
Bjs.
William Silva

Anônimo disse...

Ótimo!!! Adorei!!! Bjussss

soraya.magalhaes@gmail.com disse...

Oi William,
fique à vontade.
que bom que gostou. escreverei mais então.
e continue comentando. assim, provocada, produzo mais ;)
abraço

Maya disse...

Ei, o que passa com o link do Wordpress?

Anônimo disse...

O restaurante natureba chamava-se "Bom Demais", e foi uma das melhores coisas que já aconteceu em Brasília. Lá podíamos ver não só a Cássia Eller, mas também outros artistas, uns começando a carreira, outros já famosos. Foi um tempo muito bom em Brasília. Eu ia sempre ao Bom Demais, da Criatina Roberto. Pena que acabou... Mas foi muito bom enquanto durou ? Parabéns pelo blog, ouço mais música clássica, mas também Bill Evans, por exemplo, de quem tenho mais de 80 CDs, e também DVDs... Abraço, Gustavo

soraya.magalhaes@gmail.com disse...

Oi Gustavo,
Então vc também estava lá e viu a verdadeira história do rock de brasília?(rs)
Hoje eu tb escuto Bill Evans e muitas outras coisas.
Cadê sua cara?
fiquei curiosa agora.
Abraço

Anônimo disse...

Olá Brasil, daqui fala Portugal.

Tive imensa pena da Cássia Eller não ter vivido o suficiente para vir cantar em Portugal.
Eu estaria lá para ver e aplaudir, não me importa se homem ou mulher, era sim uma força da natureza á solta. Um pouco de tudo, de homem, mulher e criança.

Tenho toda a discografia da Cássia e compreeendo bem a "paixão" da Soraya...

Um beijo daqui, para vocês aí!

Carlos Pinto

Anônimo disse...

oi,
indiquei o blog para o Prêmio Selo Dardos de Reconhecimento.
+ info: www.anos60.wordpress.com
um abraço,
edi cavalcante

por Luma Pinto Oliveira disse...

Adorei a maneira de escrever da autora da postagem.

Anônimo disse...

Nessa mesma década, quase no final, escuto Música Urbana. E penso, tem um Renato e uma Cássia brutalmente imperdíveis nesse som.
Amei os dois.

mbrito37@gmail.com

Anônimo disse...

Nessa mesma década, quase no final, escuto Música Urbana. E penso, tem um Renato e uma Cássia brutalmente imperdíveis nesse som.
Amei os dois.

 
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