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11 de outubro de 2015

Sony/Columbia Legacy relança obra-prima de Errol Garner com 11 faixas adicionais ou Lucas, como você esqueceu esse disco?

Nas mãos da minha amada Raquel, as duas edições de 'Concert By The Sea' lançadas no Brasil. A da esquerda, a primeira edição Mono da Columbia do Brasil, que depois mudou o nome para CBS e nos anos de 1990 relançou o disco em edição do selo 'Masterpieces', divisão de Jazz da Columbia que relançava clássicos remasterizados digitalmente para Stereo. O da direita é o disco que o meu amigo Lucas teve a coragem de esquecer. 

Por Leonardo Alcântara

Um Clássico Instantâneo


No dia 19 de setembro de 1955, o pianista Errol Garner gravou aquele que é considerado um dos maiores registros da história do jazz. Um disco tão importante para o gênero, que se tornou um clássico instantâneo e peça preciosa nas mãos de colecionadores (com exceção de um).

Martha Glaser e Errol Garner
A convite da empresária Martha Glaser (foto ao lado), Errol Garner, que estava em São Francisco, pegou um carro na companhia de Eddie Calhoun (baixo) e Denzil Best (bateria) e cruzou a Costa do Pacífico até Carmel, na Califórnia, para participar do evento 'Sunset Series', produzido por Jimmy Lyons no auditório da Sunset School (agora Sunset Arts Center), que fora uma igreja de estilo gótico e contava com uma acústica perfeita.

Os ares de São Francisco, Carmel, praia e a descontração de seus colegas, marcaram a execução de Garner em uma performance vibrante e cheia de entusiasmo.

Assim nasceu o 'Concert by the Sea' o disco mais importante da carreira de Garner e um dos maiores clássicos da história do jazz.

Recheado de Standards, o disco impressiona pela a construção harmônica e rítmica. Garner não lia partitura, o que lhe dava uma técnica extravagante, fora dos padrões da época. A sua mão esquerda oscilante e a direita marcando com elegância melódica, deu ao disco um balanço ligeiramente descentrado, que transita entre o máximo de swing e o lirismo em improvisos imprevisíveis, que empolgam o ouvinte do início ao fim.

Lançamento e Recepção


George Avakian
Não havia um plano oficial para gravar o concerto. Isso só ocorreu, pois Martha Glaser descobriu que um gravador corria nos bastidores. A gravação estava sendo feita por um engenheiro de gravação da Rede de Rádio das Forças Armadas Americana, um fã de jazz chamado Will Thornbury, que estava ali gravando o concerto para si e seus companheiros militares.

Glaser levou as fitas para George Avakian, chef da divisão de jazz da Columbia, que decidiu liberar o lançamento mesmo com equipamentos de captação relativamente primitivos. O LP Mono foi lançado com o número de catálogo CL 883. Uma edição remasterizada eletronicamente para simular o som sterero foi lançada anos de 1990 com o número CS 9821.

Avakian, que assina o texto a contracapa da primeira edição, relatou no último parágrafo:

"O esplêndido acompanhamento de Errol Garner nesta gravação é de Denzil Best na bateria e Eddie Calhoun no contrabaixo. A voz que ocasionalmente se ouve, à maneira de Toscanini exortando seus músicos, é de Errol, empenhado em reger com a cabeça, as mãos, os ombros e as cordas vocais. Como sempre, deu ele o melhor de si. Houve dois intervalos, e Errol suava em bica ao fim de cada parte do concerto. Contudo, tinha sido precavido bastante para trazer quatro mudas completas de roupa - e usou-as todas!"

'Concert by the Sea' é certamente um dos discos de jazz mais vendidos da história. Segundo dados do All Music, até 1956 o disco já havia vendido mais de 225.000 cópias e em 1958 atingiu a renda de 1 milhão de dólares em vendas, uma soma astronômica para os padrões da época, sobretudo para um disco de jazz. Tais feitos fizeram de Errol Garner um verdadeiro 'popstar', sendo um dos jazzistas mais requisitados de seu tempo.

60 anos depois 






22 temas foram gravados naquele 19 de setembro de 1955, mas por razões óbvias de espaço no disco, apenas 11 foram lançados. A boa notícia é que hoje, 60 anos depois, a Sony/Columbia Legacy está lançando Erroll Garner: The Complete Concert By the Sea, que restaura a totalidade do concerto com as 11 faixas que não entraram na versão original. O lançamento vem em CD triplo, com as faixas na ordem exata daquela apresentação, incluindo o anuncio inaugural de Jimmy Lyons e uma entrevista de 14 minutos de Errol Garner, Eddie Calhoun e Denzil Best para Will Thornbury. Imperdível!




Erroll Garner: The Complete Concert By the Sea
E o Lucas?

Assim como é o seu coração e seu caráter, o Lucas é uma exceção entre os colecionadores de discos. Enquanto a maioria queria ter a oportunidade de não somente ouvir, mas tocar em um 'Concert By the Sea', o Lucas é o único ser da terra (se é que isso seja coisa de terráqueo) que compra essa obra-prima e esquece como se fosse um LP da Mara Maravilha. E o que mais me entristece no meu amigo é que ele nem se deu conta, nem perguntou, nem sentiu falta. É um absurdo que eu precise fazer um post para lembrá-lo de tal heresia. Mas tudo bem, Lucas! Seu disco está bem guardado. Só acho que se fosse pinga e pão de queijo, certamente não teria esquecido.JM 



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